terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sandy

Domingo à noite, ligo a televisão para distrair um pouco a minha mente entre um texto e outro. Faustão entrevista Sandy. Na verdade, ele não consegue entrevistar ninguém, só fala o que quer que a pessoa diga e coloca o microfone perto da boca da pessoa por três segundos para que ela confirme o que ele disse.
 O quadro basicamente mostra opiniões de pessoas sobre a moça. Uma das pessoas entrevistadas diz que a Sandy é bem bonitinha, e tem uma voz bonitinha, mas canta umas músicas enjoadinhas. Logo depois, a moça que deu sua opinião foi bombardeada pelo apresentador, que afirmou que a “música enjoadinha” vendeu num sei quantos milhões de CDs. Uma frase totalmente coerente com a capacidade mental do apresentador que, desde que eu era criança, apresenta um programa tão sem conteúdo que não serve nem de chiclete para o cérebro. Um espaço na televisão destinado a promover amigos e filhos dos amigos, a fazer com que a população se encante pela vida desses supostos artistas.
Eu poderia citar um milhão de razões que me levaram a odiar a Sandy. Mas faço um desafio, alguém pode me dar uma razão para escutar as músicas dela? Não que eu não escute. Afinal, também fui criança na época em que o Sandy e Júnior era febre. Não tenho preconceito, mas uma opinião formada.
 A bichinha, toda orgulhosa de ter feito um cd autoral, com músicas “reflexivas”, segundo ela. A Sandy para mim é uma Xuxa de cabelos pretos, seguida por uma legião de fãns que gosta dela por ter escutado suas musiquinhas quando criança. Depois de ver uma reportagem sobre como o Justin Bieber foi dispensado por uma modelo 14 mais velha que ele, decidi desligar a televisão. Saudades do tempo que tinha TV cultura por aqui.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O caos na cidade

"Tu tá aonde? Tá fazendo o que que não tá com tua câmera cobrindo o caos na cidade?"
Depois dessa ligação refleti sobre o sentido da minha vida e sobre a utilidade das câmeras e da mídia "livre" que temos por aqui. Posso vir aqui, escrever o que quiser, falar bem ou mal de quem eu quiser. Sou livre! Posso filmar as pessoas da rua, fotografar do alto dos prédios e mostrar os produtos do real à outros loucos, que como eu, se sentem atraídos por isso, pelo caos. Aqueles que enxergam a beleza do beco na poeira, que se encantam pelo pop da praça José de Alencar. Chega de tanto "o Benfica é o centro da cultura." O que tenho visto pelas minhas andanças é que desde meados de 2004, a cultura que se mostrava por maracatus e cortejos pelas ruas do Benfica andam arquejando. Para não dizer que já morreu, vi umas 2 manifestações, uns 2 suspiros pelas ruas. Do que serve tanta sabedoria se ela é para ficar trancada no cabeção de uns poucos egoístas nem um pouco humildes? Do que vale internet sem fio se não se compartilha a senha? Do que serve seu corpo se ele é para ser tratado como um fruto proibido que não pode ser tocado (estiquei a baladeira, referência a "Bliss", ou "Felicidade", um conto da Mansfield)? E do que vale uma greve se os motoristas vão voltar a trabalhar feito escravos em menos de uma semana? Para mim é, e sempre foi (pelo menos na maioria dos assuntos) "ou fode ou sai de cima". Ou faz logo o mal, ou deixa quieto. Se é para mudar, então seja radical. Nada de aparar as pontas, raspe logo o cabelo no pente 1.

Confissões de adolescente

     Eu li "Confissões de Adolescente" um dia desses. Encontrei o livro lá pelas últimas estantes da biblioteca de humanidades, ao lado de "O segundo sexo", da Simone de Beauvoir, e  "Minha vida de menina" (não recordo o nome da autora e estou com preguiça de procurar).
Assisti a série na Cultura, e não sabia que se tratava da adaptação para o teatro do diário de Maria Mariana, que na série interpretava ela mesma. Que coragem! Abrir seu diário, com todos os seus medos, suas loucuras, expostas ao julgamento dos outros, sem nem se quer omitir nomes. De fato, naquela época, 1992, era preciso muita coragem. Hoje isso é tão comum. Quase todos os seres da face da terra tem um blog, onde compartilham suas opiniões e façanhas. Mas uma coisa de ousadia ela teve.
 Ela tinha 18 anos, e falou de coisas que eram vistas como monstros, mesmo que todos soubessem que eram naturais. Sexo, maconha, aborto, paquera...Hoje percebo as pessoas falando muito mais, de uma forma mais elaborada, textos filosóficos, mas dizendo, quase sempre, menos. As pessoas omitem os nomes nas suas aventuras. "Vai que o fulano lê e fica com raiva."  Qual é? Pelo menos no diário havia menos pudores.
Gostei de ler o livro. Me levou à tempos remotos, coisa não tão rara para um ser tão nostálgico.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Katherine Mansfield

           Eu achava que eu era anormal...calma, antes que você comece a enumerar os motivos que me levaram à essa conclusão, me explicarei. Quando eu era criança, era tímida. Depois, a timidez se misturou à um mal comportamento. Eu era danada, mas mesmo assim não conseguia olhar nos olhos. Muitas coisas aconteceram, fui rebolada no meio de uma multidão onde a regra era "falar ou morrer", então aprendi. Mas, mesmo assim, ainda tem um entalo, como uma bola de pêlos na garganta de um gato. Ele tenta colocá-la pra fora, tosse, parece que vai morrer de um ataque de asma, mas ela se nega a sair, grudada dentro dele. Consigo falar muitas coisas, mas outras tantas, bem maiores, não saem. As palavras são muito pouco, e, mesmo que eu fale, como terei certeza de que quem me ouviu, viu o que eu vi? Sempre imaginei como seria se eu pudesse ler pensamentos, e se todos pudessem ler os pensamentos uns dos outros. Acho que ninguém seria mais amigo, todos se odiariam. Apesar disso, às vezes eu queria que lessem meus pensamentos, para entender  que o que eu disse era pequeno diante do que eu pretendia significar. Gosto de poder ficar ao lado de uma pessoa em silêncio, olhando para o nada. Quase ninguém entende essa sensação. É uma espécie de conforto, de companhia solitária. Gosto também de só falar besteira, de rir, de fazer caretas e cócegas, de deitar na barriga do outro e tentar interpretar a língua estranha falada por seu estômago...
Sim, eu comecei dizendo que eu me achava anormal, exatamente por essa dor em me comunicar. Mas me apaixonei por Katherine Mansfield. Como é que ela consegue fazer você experimentar o que ela quer  sem nenhuma barreira, como se você vestisse a máscara da personagem? Ela toma sua percepção, e você não é mais só você, mas se torna, nem que por alguns instantes, Bertha Young, Kezia, Else, Mr. Peacock, e todas as suas personagens. Queria ter esse poder leve de abdução.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Vingança

"Revenge is a dish best served cold."

Essa discussão sobre a natureza do ser humano ser boa ou ruim já é bem batida, eu sei, mas não se pode negar que a vingança é atraente para todos. Quem nunca sorriu, mesmo sem perceber, ao imaginar aquela pessoa que te prejudicou de alguma forma caindo no chão, se estatelando, espalhando todas as sacolas pela rua, e rasgando o joelho com o impacto seco no asfalto, quem sabe até perdendo alguns dentes...
Wuthering Heights, ou Morro dos Ventos Uivantes, é um clássico no assunto, que está por todos os lugares: na cabeça das pessoas, nos olhares, nas músicas (oughtta know, da Alanis), no cinema (Kill Bill), etc, etc.
Em Morro dos Ventos Uivantes a presonagem principal arrasta sua vingança por gerações, atingindo com seu sadismo ( que em alguns momentos se torna masoquismo) até a filha de Cathy, a mulher que ele amava, mas preferiu casar com outro por status e dinheiro. Em Kill Bill, ficamos sedentos de vingança por empatia a Beatrix Kiddo, a noiva, que teve todos os seus convidados, seu noivo e seu bebê, assassinados por seu ex-amante vingativo. Acabamos esquecendo que ela era também uma assassina de aluguel, e que deve ter cometido atrocidades piores do que as que sofreu. Mas ela mesmo, com sua ética samurai, deixa claro que aceitará qualquer tentativa de vingança pelo seu acerto de contas. Todos merecem morrer no filme, então, o que tem a melhor espada Hatori Hanzo vence.
Quanto a mim, tenho tentado contar até dez para esquecer a razão da minha raiva, penso no provérbio sobre uma vingança tardia e melhor. Na maioria das vezes acabo esquecendo. A vida trás coisas boas e você esquece a amargura da vingança. Mesmo assim um sorrisinho surge espontaneamente no canto da boca ao imaginar a queda....ah, a queda...