segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quer um trago?

Eu acho massa o poder da propaganda de cigarros.  Durante anos, fomos bombardeados com comerciais de cigarros que propagavam a idéia de charme, sensualidade e poder, tudo em uma tragada de fumaça provocante. Nos anos 40, tinha até marcas recomendadas por médicos. Anos 80: propaganda de Hollywood bem ao estilo cinematográfico. Imagens de esportes radicais com fundo musical de sucesso na época. Marlboro: Um vaqueiro macho no oeste e aquela música que todos com mais de 20 lembram.
A visão sobre o cigarro mudou. Pessoas começaram a processar as empresas. Os comerciais que enchiam revistas e a televisão foram proibidos. No lugar deles, as pobres marcas foram forçadas a fazer propagandas auto-gongantes: tiveram que colocar fotos de “vítimas” da nicotina atrás das carteiras (ou maços, como queiram).
Se algo do tipo acontecesse com qualquer outra indústria, seria sinônimo de falência. Por isso eu admiro o cigarro. Ele não tem consumidores, mas seguidores. Imagine um pai numa loja de brinquedos na véspera do dia das crianças. A menina quer uma Polly desesperadamente. Ele compraria a minúscula boneca se atrás da caixa encontrasse a foto de uma menininha asfixiada com uma das peças pequenas? 
A indústria do cigarro é bem mais forte que qualquer birra de criança.  Quando questionados, os fumantes dizem: “todo mundo vai morrer mesmo” ou “eu só fumo meia carteira por dia”. Qualquer um que ainda não tenha sido totalmente seduzido perceberá o quanto é ruim fumar. Você acende o cigarro e traga. Ele queima sua garganta. Alguns são mais fracos que os outros, mas nenhum deixa de ter esse efeito. Depois vem a parte divertida, você sopra a fumaça. Isso é legal. No começo dá uma tonturinha boa. O problema é que a fumaça é podre. Seu cabelo, seus dedos, sua boca, sua roupa, tudo fica fedendo a cigarro. E a parte boa, a tonturinha, só dura uns segundos ou uns três, quatro tragos. Depois, resta só a fumaça fedorenta.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quente

Uma cidade quente. Você já ficou brincando de pingar cera derretida nos seus dedos e esperar secar? Sabe a sensação de pele esticada e ardor que fica depois? É assim que eu sinto meu rosto.
Muitas pedras (pedras não! Monólitos- diria o professor Chapatin). Parece meio bizarro ir a um lugar para ver pedras, mas as pedras aqui são incrivelmente belas. Tons de cinza, o clima seco, o verde das plantas, as cores das casas, os rostos das pessoas enquanto esperam pelo ônibus na rodoviária. E eu aqui, fazendo um envelope de diário de bordo.
Que arrependimento, não trouxe câmera. Também não trouxe ninguém.
Uma velha vestida com uma blusa vermelha de malha, cabelos bem curtos, esbranquiçados, de rosto enrugado, cospe. Um fio de cuspe permanece pendurado no canto de sua boca. Ela se aproxima de um dos que esperaram na rodoviária e diz:
- Meu filho, tem uma moeda que me dê?
Ele só olha e ,alguns segundos depois, balança a cabeça dizendo que não.
A velha limpa o fio de cuspe que escorre pelo espaço entre seus poucos dentes com as costas das mãos. Em seguida, com a mesma mão, toca outra pessoa. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Mendiga da internet

Sou uma exilada da modernidade, uma mendiga da Internet.
Depois de ter sido assaltada por todos os planos, desisti de ter Internet em casa. Desde então, tenho me submetido aos horários de pessoas caridosas que me deixam usar sua ferramenta de comunicação com o mundo.

É muito triste isso. E o pior é que não é como a televisão. Quando saí da casa dos meus pais e minha televisão queimou, eu nem percebi. Passei uma ano assistindo TV só quando visitava minha mãe.

Preciso da internet para estudar e trabalhar, e também para saber o que está acontecendo e como as pessoas estão reagindo. Ainda me espanto com a capacidade de comunicação rápida e “democrática”. As pessoas podem se esculhambar, podem escrever em blogs, podem twittar...é massa. E se você vai comprar alguma coisa, ou se matricular num curso de inglês, por exemplo, basta buscar no “reclame aqui” que você fica vacinado contra pilantragem. E se você se interessa por uma pessoa, basta ler o blog dela pra descobrir que a gatinha é psicopata, ou que o cara cheira cola. Simples, rápido e acessível...Bem, acessível pra quem tem grana, porque pra mim tem sido bem difícil. E minha peregrinação em busca do Wireless perdido continua.