domingo, 18 de outubro de 2009

Em suas veias corre seiva bruta. Às vezes um ou outro galho surge entre seus cabelos por um instante para ser escondido novamente por suas mãos magras. Raízes brotam de suas saias e adentram terreno firme mais próximo. Move-se de um lado para outro em um movimento sonolento e alheio ao resto do mundo.
Se todos riem, ela emudece. Parece viver em outro lugar, um não sei onde inatingível. O absurdo é que ela nunca para. Suas raízes presas ao chão e ela produz. Insana e sábia em seu trabalho interminável. Suas mãos pálidas, seus dedos de graveto, sua tez esverdeada jamais remontariam à sua fortaleza. Sempre lá, a despeito dos ventos inóspitos. Triste, porém. Saudosa de algo do mundo desconhecido. Talvez somente existente em sua terra distante.
Insetos se alimentam de sua força. Filhos saem dela e se expalham ao sabor do vento, vagueam pelo mundo sem dela lembrar. Nunca um elogio. Cicatrizes em sua pele. Casca dura, ferida. Tudo dói, mas nada é dito.
Ela cresce e cresce, mas tão devagar que ninguém percebe. O teto da casa é baixo, casa de reboco. Ela então se entorta para não incomodar. Galhos saem pela janela, no entanto todo seu esforço não basta. O dia da necessidade chega. É seca, é fome, é dinheiro. E ela corta seus próprios galhos de vida para fazer fogo para os que dela dependem. E vive, e morre, e se renova, e nunca acaba.