Sou a única pessoa da minha idade que conheço que vai ao centro por prazer. Prazer...essa é a palavra certa. No centro tudo que é feio em outros lugares se torna tão sublime. Um homem fumando sentado em uma das colunas do muro que cerca o parque das crianças, um flanelinha na praça José de Alencar tocando flauta doce, as crianças apertadas na multidão para escolherem a mochila do ano, os vendedores de cara feia na porta das lojas...tudo ganha um outro tom, principalmente em um sábado chuvoso.
Minha missão no centro era comprar uma mochila que se encaixasse no seguinte perfil:
- Que não fosse de criança.
- Que não fosse “muito” masculina.
- Que fosse grande o suficiente para caber as minhas coisas úteis e inúteis.
Missão difícil essa minha, mas acho que consegui depois de muito sofrer. Tive apenas alguns desvios no percurso. Parei nas Americanas e comprei filmes: Cães de aluguel, De volta para o futuro, Quero ser grande e Gatinhas e gatões, grandes clássicos da sessão da tarde.
Ao me ver ali, com uma sacola cheia de filmes e um papai Noel de chocolate que estava sendo vendido pela metade do preço, já que estamos no fim de janeiro, pensei que precisava arrumar um namorado para passar os fins de semana chuvosos apreciando esses filmes de alto teor cultural.
Passado o pensamento, dou de cara com uma daquelas revistas pra mulheres que ficam sempre próximas ao caixa. A foto de uma atriz da Globo seminua na capa perde o destaque frente às duas frases que vêm ao seu lado: “Como fazer qualquer homem se comprometer” e “ Confissões de um bem-dotado: 25 cm”.
Eu ri sozinha na fila lotada. Não resisti. Era uma revista pra mulher, então eles acham que o que interessa às mulheres são caras bem dotados e ter o poder de fazer qualquer cara ( bem dotado ou não) se submeter à sua vontade? Eu ri. Primeiro, porque é trash, e depois, por ter um pouco de verdade nos pensamentos dos idealizadores da capa chamativa. Para completar, a imagem daquela “gostosa” da globo me fez pensar em como os editores tentaram plantar nas leitoras o desejo de ser uma dessas gostosas. O pior é que eles conseguem, a mídia consegue. Não que eu seja uma feminista revoltada com a imagem da mulher fatal. Que nada!
Até gosto de brincar de me montar, de salto alto, roupa justa, maquiagem, afinal, a gente brinca disso desde criança. ( link dentro do site da revista:http://nova.abril.com.br/especiais/guia-sexo-oral/, clique em menu e verá as seguinte opções: "Engolir ou não?" e "Dicas de uma prostituta") Na verdade sou contra a exigência de ser uma só pessoa. Qual é o problema em usar havainas num dia, salto no outro e depois all star? Parece que as pessoas querem que você siga um padrão...coisa doida. Eu gosto de mudar. Gosto de cortar o cabelo, de mudar totalmente o estilo das roupas, de assistir filme idiota e filme Cult...Não preciso ser coerente com essas coisas. Eu me acho na bagunça, às vezes me perco, não tem problema.