sábado, 31 de março de 2012

sexta-feira, 30 de março de 2012

Coma

Eu já desejei entrar em coma. Já desejei minha própria morte também, confesso. Talvez o coma seja uma opção menos "errada". É uma morte só que com uma possível passagem de volta.
O meu desejo pseudo se realizou. Estou em coma para o mundo há uma semana. Nessa mesma hora da última sexta, eu estava saindo do IFJ, ainda dazed and confused com o que tinha me acontecido. Agora estou em casa, tentando transcrever meus pensamentos doentes. Só vi a rua uma vez nessa semana. Sentei na praça com dois amigos, fumei meu gudang e vi os velhos que corriam me observarem, abismados, só não sei ao certo com o que; se com as muletas, com o curativo na minha perna, ou com o fato deu estar fumando apesar de tudo. Não sou fumante. Detesto o cheiro que fica nos dedos e nos cabelos depois de apenas um cigarro, mas às vezes um gudang é bom pra relaxar. O melhor dele é que você só aguenta fumar um ou dois.
Depois desse curto passeio à lá poodle, fui obrigada a me trancafiar novamente em meu quarto. Sem mais visitas.
Solidão tão desejada. Acho que ninguém entende isso. Não é coisa de gente normal.
Hoje achei que já estava bem para sair, mas não fui. Preferi ficar mais um pouco. Tenho medo de ficar como Gregor, do Kafka, e acabar me escondendo atrás dos móveis até levar uma maçanzada...nunca vou esquecer aquela maça fincada nas costas dele, apodrecendo aos poucos e causando dor.
Tenho medo de quem eu provavelmente irei me tornar, mas não quero fazer esforço algum para evitar isso.

A series of unforntunate events.

São cinco e dez da manhã. Não tenho sono. Essa semana foi totalmente absurda. Só pisei fora do meu quarto e fora de casa uma vez, quando o George me levou para fazer o B.O. Ontem eu estava mal, muito mal, MAS, como sempre, era só |tpm. Hoje eu era outra pessoa. Acordei tarde, comi fígado no almoço. =)
E fui agraciada com "Desventuras em série" na Sessão da Tarde. Adoro esse filme. A história, o narrador, os atores. Jim Carey é perfeito no papel de vilão ator canastrão. Adoro a maneira como o narrador conduz a história, sempre quebrando as expectativas felizes e, assim como Machado de Assis, pedindo que o expectador/ leitor busque algo mais "animador" para se entreter. O cenário, a fotografia, tudo é lindo. Bem melancólico e destruído. 

“Nunca dirijo meu carro por cima de uma ponte sem pensar em suicídio. Quero dizer, não fico pensando nisso. Mas passa pela minha cabeça: SUICÍDIO. Como uma luz que pisca. No escuro. Alguma coisa faz você continuar, saca? De outra forma, seria apenas loucura. E não é engraçado, colega. E cada vez que escrevo um poema, é mais uma muleta que me faz seguir em frente.”

O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio
Bukowski

quinta-feira, 29 de março de 2012

There's a long way ahead.

Me acho tão parecida com o Bukowski aos 71 anos. O problema é que ainda vou completar 26.

The Rolling Stones Gimme Shelter Live Pop Go The Sixites 1969



Bonnie e Clyde

Bonnie e Clyde deitados na cama. Bonnie com sua perna enfaixada por conta de um ferimento na última fuga. Eles assistem um filme, bem, pelo menos Bonnie. Clyde cochila. Aliás, nem ela assiste. Seu olhar está perdido. Clyde abre o olho direito e olha para ela. Aquele olho.
"Estou certo sobre ti, não é? Tu sente por mim a mesma coisa que sinto por ti."
"Muito provavelmente", ela responde, munida de uma certeza silenciosa.
Depois ela pensa e tenta compreender o motivo da pergunta. Tarde demais. Ele nunca dirá.

Aniversário de 26

Vou fazer vinte e seis anos, o que me deixa há quatro anos dos 30 e há 10 anos dos 16. Faltam uns dois meses. Ainda nenhum sintoma da depressão pré-aniversário. Também, tem tanta coisa pra me dar depressão agora que  meu foco mudou. Não estou propriamente triste. Primeiro fiquei puta por ter que ficar aprisionada em casa, logo eu que adoro fugir. Mas hoje passou "Desventuras em série" na  Sessão da tarde. Adoro esse filme, então fiquei feliz e cheia de idéias. Adoro o narrador que se intromete e cria expectativas só pra poder quebrá-las logo em seguida. 

Pain

A dor é um sentimento muito solitário. Sim, eu sei o quão ridículo e contraditória essa frase soa, afinal, TODOS os sentimentos são solitários. Por mais que tentemos compartilhá-los com palavras a atitudes, ninguém nunca saberá ao certo o que há em nós. Quando eu senti dor, muito provavelmente (assim espero) a pior dor da minha vida, vi que as pessoas que estão acostumadas aos gemidos e ao sangue não ligam mais pra isso. E é porque, nesse caso, havia evidências materiais da dor. E quando não há? Quando essa dor é causada por sentimentos? Tentamos, em vão, contar e recontar as histórias que nos magoaram em busca de alguém que pelo menos finja compartilhar o que sofremos. Nossa, tô soando tão auto-ajuda. Na verdade, sendo mais clara, quero dizer que as pessoas não tem pena de ninguém porque elas não sabem o que as outras sentem e tem preguiça de tentar se colocar em qualquer posição diferente da sua.
Existem escalas para medir a dor, mas como medir algo tão subjetivo? Uma vez tentei tirar a sobrancelha de uma mulher, mas ela saiu chorando e não me deixou terminar. Essa dor pra mim é tão normal, tão suportável. Minha cunhada precisou levar dois ou três pontos em um corte na coxa. Ela gritava e quase chorava antes mesmo do médico começar a pontiar. Eu levei 20 pontos na coxa e mordia minha mão pra não gritar, mas não chorei e suportei a dor como uma mocinha.
Pessoas terminam um namoro e tomam chumbinho, outras enchem a cara enquanto outras saem por aí transando com todo mundo. São modos diferentes de sentir e de tentar matar essa dor.
Mas o que mais me entristece é o fato das pessoas acharem que não sofro porque tento fazer essa cara de independente 23 horas por dia. A verdade (se é que A verdade existe) é que eu escolho sufocar essa dor, menosprezá-la. Há tantas coisas que preciso fazer, não quero perder meu tempo chorando ou gritando por uma ajuda que NUNCA vai chegar. Nós é que procuramos razões para sofrer, se não pelos outros, por nós mesmos.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Quanto mais o tempo passa, mais velha me sinto, e isso parece tão fora do normal.

Perna do dia 26 (segunda)


domingo, 25 de março de 2012

Furada


Perna de toicim ( Rascunho, Parte I)

Sangue quente escorrendo pela minha coxa direita, formando uma poça que em breve envolve todo meu corpo. Depois de ser arremessada ao chão pela gigante Golias gorda, eu, Davi derrotado de 54 kilos, caio como um saco de bosta no asfalto. Sento e vejo o pedaço de vidro enorme enfiado na minha carne, já banhada em sangue, sangue esse que parece infinito. Puxo o corpo estranho de mim como se fosse o Rambo, ou algum outro protagonista de filme de guerra americano, ou talvez um androide. Isso faz o liquido vermelho quente jorrar mais ainda, como se fosse possível. De repente uma multidão se forma dentre os bêbados curiosos que, poucos momentos antes, se preocupavam apenas em ficar cada vez mais bêbados. Alguém amarra minha perna com uma camisa. O Adrian surge com outra camisa e amarra também. Uma camisa preta e uma branca, e meu sangue ainda salta louco de dentro de mim. Isso está errado, eu penso e falo, tentando tirar a camisa preta atada à minha perna dilacerada.  Um desconhecido caridoso me joga em seu carro. Admiro pessoas que não tem apego a bens materiais. Minha vida foi mais importante pra ele do que o fato de ter seus bancos banhados pelo sangue de uma desconhecida que não valia a pena. Alguns litros depois, estou no IJF. Comigo Michele, Adrian e o desconhecido, que segue seu caminho depois de prestar a boa ação do dia. Alguém me traz uma cadeira de rodas, mas só depois de me perguntar o que aconteceu e de se certificar que todo aquele sangue brotando da minha coxa fazia jus ao hospital mais lotado de fortaleza. Digo, aliás, grito que levei uma facada. Alguém que já dependeu tantas vezes do SUS como eu começa a aprender os truques de um pronto atendimento. Grito que estou perdendo muito sangue. Vou perder minha perna! Levei uma facada! Tá doendo muito! É lógico que um ser tão escandaloso e desesperado mereçe entrar. Eu entro. Meus amigos ficam para trás. Uma vez lá dentro, suas chances de ser atendido crescem...talvez de zero para dez porcento. E é preciso agarrar esses dez porcento com todas as suas forças. Eu grito ainda. O mesmo discurso. Um residente (Evil), jovem rico que odeia ser médico, simplesmente me diz "Você acha que é a única pessoa sangrando aqui? Tem casos mais graves que o seu." Eu levei uma facada e tô me esvaindo em sangue, isso não é grave? " EU não estava em um lugar onde poderia levar uma facada." Um residente se achando DEUS: digno de decidir quem merece ou não viver, quem deve ou não morrer afogado no próprio sangue. Eu grito: Agora pronto, não vou ser atendida porque o médico não gostou da minha cara e acha que levei uma facada porque quis.
Toda a equipe me dá as costas. Tento segurar a dor, pensar em coisas tranquilas, mas só sinto cheiro de doença e sinto o calor da minha vida saindo pela minha coxa. Olho pra ela. Um pedaço enorme da minha carne ao molho cabidela dependurado, morrendo. Sento na maca. O sangue salta em jatos mais fortes. Vejo-o se acumular no colchão imundo onde estou e misturar-se a pequenos pedaços de nãoseioque brancos. Olho para os médicos, ainda decididos a me castigar com sua indiferença. Então começo a passar minha mão no sangue e desenhar na parede, falando loucuras delirantes de moribundo. Não tinha interesse de forma nenhuma figura, apenas de transmitir um certo desespero assustador o suficiente para afetar o próximo a ter sua maca colada naquela parede de espera eterna. Mais gritos, gemidos e sangue e eles se aproximam. "Só me costurem que eu vou embora, só isso." O médico de verdade (não residente-evil) começa a me costurar, não antes de me dar várias injeções com anestésico dentro da minha coxa aberta. Dor. Dor.
Nunca tinha levado ponto antes. Me reviro na maca. Tapo minha boca como se fosse a de um desconhecido escandaloso. Algumas agulhadas depois, o médico diz que a sutura era trabalhosa. "Eu não disse que era grave?" Ele me olha de cara feia. "Tu é o Dr. House." Cara mais feia ainda. Ele desiste, Dá uma desculpa e pede pra outro residente me costurar. Esse não é evil como o outro. Um pouco de humanidade ainda reside em seus olhos. Ele me costura conversando. Apesar de mais humano, sua mão é mais pesada do que a do Dr House e sinto a agulha, ou melhor, o anzol de pesca entrar e sair da minha carne. Ele se espanta com a quantidade de besteiras que eu falo e pergunta se cheirei, pergunta o que eu tomei. "Se eu tivesse cheirado tu acha que eu taria sentindo essa dor?" "Um conselho pra você, se é que eu tenho condição de dar conselho: não percam a humanidade. As pessoas aqui são muito desumanas." As meninas ao meu lado, também residentes, conversam como se estivessem na hora do recreio. Uma delas diz ter prova na terça. "Eu tenho prova na segunda!" "De que?" "De francês...Je ne parle pas rien."
Eles me costuraram enfim, depois uma das evils foi pegar um soro pra colocar na minha veia. "Lê isso aí dreito pra ver se num é silicone, as gatas colocam as coisas na gente sem nem ler direito...se for silicone coloca nos meus peitos, não nas minhas veias." Tão palhacinha, a doente mais alegrinha."Nunca dependam so SUS, é uma merda!" eu gritava para os residentes asustados, me julgando como uma louca drogada que deveria ter feito confusão suficiente para levar a tal facada. "Não levei facada, eu confesso, me jogaram no chão e caí num caco de vidro, tudo porque tentei apartar uma briga." De vez em quanto a cabeça do Adrian preocurado surge na porta de entrada do corredor onde eu agonizava. Eu grito que ele tenha calma, que me espere. "Te amo lá fora." Uma enfermeira vem e diz que está com a antitetânica que pediram. Ela enfia a agulha no buraco da minha perna, provocando talvez o ponto máximo da dor da noite. "Ai, sua louca!" eu grito insana. "Sua louca não! Me respeite! Eu sou a enfermeira chefe!" "Não quis faltar co respeito, desculpa, viu." É incrível como as pessoas se preocupam com satus enquanto eu só conseguia me preocupar com o pedaço de carne pendendo da minha coxa...depois de remendada e estancada, a tal enfermeira chefe entra gritando que desocupem logo a maca, pois tinha acabado de chegar um homem com ferimento a bala no pescoço. Eu digo para o residente humano que ele me deixe ir, que o outro lá precisa da maca mais do que eu. Ele tenta negociar que ele fique um pouco mais, mas sou lançada porta a fora numa cadeira de rodas. Adrian e Michele estão lá. E eu sou só pedidos. Ele tenta gravar alguma coisa com meu mp4, mas eu me revolto. Fico morrendo de ódio. "Tu quer fazer da minha vida um momento jornalístico? Me dá essa porra agora, isso é MEU!" Ele se nega, tenta tomar a porra da minha mão. Fico mais possessa ainda. Eu com a perna recém remendada e a pessoa discutindo comigo! Ele me devolve o mp4 e vai embora indignado. Me sinto uma aleijada ao vê-lo sair pelo corredor, e depois vê-lo passar na rua ao lado. Só uma porta com partes de vidro nos separavam e eu nunca o senti tão distante. Peço a Michele que corra atrás dele em vão. Olho para ela. Uma pessoa tão boa (detesto essa palavra para adjetivar seres humanos, mas é a melhor para ela). O que ela tinha a ver com tudo aquilo? Seu vestido de fada tão lindo tinha agora uma mancha enorme de sangue, assim como as mãos dela, assim como as do Adrian e as minhas. Ao perceber isso me dou conta do quanto sangue perdi. Se tivesse aparado com uma garrafa poderia doar para 3 pessoas que estava ali, gemendo nos corredores comigo. Penso em alguém para ligar. Alguém que possa vir nos salvar. Ligo para meu ex, que, obviamente, não atende. Ligo para meu amigo, Thiago, que atende e vem me salvar. Adrian volta antes que a carona milagrosa chegue. São umas duas da manhã. Ele tinha ido bem ali, se acalmar. Pede dez reais e vai se acalmar mais. A carona chega. Deitada no banco traseiro com a fada Michele e Thiago nos bancos da frente, sinto o universo rodar. Minha pressão cai. Engraçado, eu achava que num desmaio, as vistas escureciam, mas é justamente ao contrário. Tudo vai ficando cada vez mais claro, até que o mundo vire branco. Você continua ouvindo tudo, mas perde o controle. Isso quase aconteceu quanto tentei levantar a cabeça. Depois de "melhorar", se é que posso chamar isso de melhora, vamos à caça de Adrian, o tensinho da estrela. Lá estava ele, relaxando na praça da bandeira. Conseguimos chegar ao apartamento da Michele. O caminho pra mim foi uma grande viagem de ácido, embora eu nunca tenha tido uma viagem de ácido. Cheguei à conclusão de que ninguém usaria drogas se soubesse  a viagem que dá perder metade do sangue do seu corpo. Cuidados e amor no lar de Michele, mas o dia amanhece e preciso ir embora, preciso dizer pra minha mãe que não consigo andar. Ligo para outro amigo. Felicidade é ter uma carona forte o suficiente para te levar no colo por três andares. Desmaio duas vezes. Preciso de outro hospital. Muita dor na minha perna costurada, muita instabilidade na minha cabeça que só produz loucura que não paro de disparar pela boca. Vou para outro hospital, particular. Pessoas sorrindo, tratamento diferente. O médico parece o Seu Domingos, um dono de bar muito simpático.

terça-feira, 20 de março de 2012

Primeira crise de Misantropia do ano

Tenho me sentido muito Gilbert Grape e muito Dom Casmurro. Tudo parece desinteressante. Até o que me chama a atenção não consegue me "iludir" por completo, e sinto saudade dessa ilusão, dessa sensação de paixão, seja por pessoas, livros, filmes, músicas. O encantamento parece ter desaparecido de mim. Só restou essa casmurrice, essa sensação de estar presa numa cidadezinha onde nada acontece, como Gilbert. No começo pensei que minha ENDora (cidade onde Gilbert e sua família bizarra (sobre)vivem) era a aerolândia, depois que era o benfica, mas Endora me persegue onde quer que eu vá.
Cheguei a colocar a culpa em tudo, na falta de pessoas, falta de coisas a fazer. Mas as pessoas tem surgido em turbilhões, muitas delas querendo me conhecer, e eu só quero fugir delas, como o Kafka, que preferia trocar cartas com suas pretendentes à encontrá-las.
Nesses últimos dias, não sei se para o meu bem ou meu mal, tenho voltado a me refugiar nos livros. É tanta coisa que eu quero saber, mas perco tempo tentando explorar o mundo "real". Isso soa muito esquizofrênico, eu sei, mas tem se provado verdade na minha vida.
Cada noite virada, andando por aí, conversando com pessoas, estando em lugares diferentes, no fim não tem proveito algum. Quero fugir desse estado de misantropia, mas as pessoas não me ajudam.

domingo, 4 de março de 2012

Sozinha na merda de mim mesma.


Todos anseiam por ouvir o que são. Pode parecer ridículo, mas você quer isso também. Ir à cartomante a ouvi-la descrever sua personalidade com detalhes é até mais prazeroso do que tentar acreditar nas previsões criativas para um futuro improvável.
A solidão é uma coisa que me atormenta. Que outro motivo eu teria para querer um cachorro de presente de aniversário? Aqui está ela. Sempre que me ouve entrar em casa chora e geme até que eu vá vê-la. Depende do meu amor, da minha atenção. E me pergunto até onde somos diferentes.
Eu sou uma cachorra mesmo! Mas também sou um gato. Eu pensava que era a solidão que me perseguia, mas sou eu que a escolho e adoto para mim. Prefiro ficar sozinha, observando as pessoas que se cercam de milhares de coisa só para fingirem que estão com alguém, tem vergonha de serem deixados a sós com eles mesmos, como a menina que espera na fila e liga de cinco em cinco segundos para saber se seus amigos estão chegando. Eu riu de como ela não consegue suportar a ideia de que pensem que ela não tem ninguém. “Não estou sozinha, viu? Meus amigos chegam daqui a pouco.“ Ela quase grita. Não estou só. Não estou só. Repita três vezes e se tornará verdade.
Eu, um ser solitário por opção caminhando pela beira mar. Um provável ladrão me segue. Impossível alguém me roubar sem ser notado. Já fui roubada vezes demais pra cair nessa. Em minha fuga discreta, desvio o caminho e escuto um som saindo do Brooms.
“O que tá rolando aí? Paga pra entrar?”
“Pode entrar, é um festival de bandas.”
Eu entro sorridente com minha flor no lado do cabelo e minha cara de ressaca. A lata vazia de coca cola na minha mão mal é uma materialização da minha condição estomacal precária. É preciso arrotar. Isso não adianta muito. Tudo só melhora quando consigo cagar as coisas ruins de dentro de mim no banheiro do bar. Olho-me no espelho depois desse alívio e vejo como estou cansada. Não deveria estar ali. Minha cama era o lugar que mais combinava com a minha expressão de “merda de lugar”.