quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal

Me formei. Deveria estar mais felizinha, mas ,sinceramente, não rola. Saí do emprego. Isso implica numa incerteza deprimente. Tinha um salário que não era essas coisas todas, mas podia pagar minhas contas e até me dar ao luxo de comer em lugares caros e frescar de vez enquando. E agora, no Natal, época mais deprimente do ano, não tenho UM puto no bolso e pra completar minha desgraça ainda gastei meus últimos centavos numa tortura: arranquei meu ciso. Resultado: além de todas as outras mazelas, terei que passar uns 3 dias sem comer. Que massa. Detesto me maldizer, mas dessa vez é necessário. Fui ao Campus do Pici pedir meu diploma e o carro morreu no meio do caminho. Fiquei com medo dele me deixar na mão e fui andando até a biblioteca. Aquela caminhada esgotou o pouco de calorias que ainda me restavam desde minha última refeição antes de ter meu dente arrancado. Além do cansaço, um sol filho da puta e uma dor ( que eu não sei se era na cabeça, por fome, ou no dente) jogavam meu corpo em direção ao chão. Mesmo assim venci! Fui lá, pedi o que queria e fui embora. A mesma caminhada, agora ainda mais cansada.
O carro morre denovo, canalha vingativo. Agora já é noite. Vou embora dessa casa. Voltar pro meu ex-lugar. Meu ex-quase marido saíu. Não sei se devo ficar chateada ou não sentir nada. É tão fácil criticar qnd vc está de fora da situação, mas qnd vc está dentro fica cego. Queria estar de fora. Nem me empolguei pra procurar um emprego novo, nem sei mais o que eu quero ser, com quem ou onde quero estar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O valor do dinheiro

Quando eu tinha quinze anos e saia de casa com cinco reais achava que iria poder comprar muita diversão. E de fato podia sim, rachava um litro de vinho, às vezes dois, com uns amigos e ia beber numa praça atrás da escola. A gente ria, bebia e deitava no coreto ( se é que se pode chamar aquela porcaria de coreto) sentindo o vento balançar o mundo. Uns pirangas passavam, e em seguida um carro da polícia. Mas pra quê sentir medo? Nós não tinhamos dinheiro nem mochilas, eramos só nós, o vento e umas garrafas de vinho. Oito anos e tudo muda. Algumas coisas seriam mesmo ridículas hoje, mas essa parte de comprar o mundo com os cinco reais que minha mãe me dava seria realmente muito agradável hoje.
Hoje a diversão é mais cara, e mesmo com a grana, às vezes não posso comprá-la. E sem a grana? Aí fica um pouco mais difícil. Nunca pensei muito em dinheiro, mas quando você precisa pagar a conta de água tudo muda. Mesmo assim eu penso, e isso me é prejudicial quando externado. Não que eu seja uma louca que sai falando coisas inoportunas, o problema é minha cara. Essa traidora que não me deixa esconder as coisas, e que já me causou muitos problemas por ficar fazendo um jeitinho de desdém ou de ironia enquanto eu deveria estar concordando com o discurso de uma autoridade. Minha cara SEMPRE me denuncia. Bandida, traidora. Esse monte de coisas que tem acontecido tem me massacrado. Como eu adoraria, suspiraria num alívio tão infinito, se eu pudesse sentar na praia, olhar o mar,e beber umas cervas bem geladas, até me sentir sonolenta e sorrir de tudo. Decidi parar de beber, e agora o alívio se tornou uma pequena tortura. Que vontade de tomar essa cerveja e que vergonnha se eu não conseguir me controlar.
Mas tudo isso é besteira. O dinheiro, o emprego, os amigos, a cerveja. Tudo faz parte de um dia que não volta. Só acontece uma vez e você nem percebe, e se apressa pra ir embora. Na verdade, se você soubesse que não iria se repetir, teria inventado qualquer desculpa pra demorar mais um pouco.