sábado, 22 de maio de 2010

Pedofilia- Lolita, Anita, Matilda...


                A pedofilia, para os mais desinformados, é um sinal do fim dos tempos, uma mazela social do nosso século. Na verdade, para discutirmos esse tema precisamos esclarecer, primeiramente, o que é infância, o que é sexo e o que é abuso. Desses três conceitos, creio que o primeiro seja o mais problemático quanto a definição.
                Philippe Ariès na "História Social da Criança e da família", trada do surgimento do conceito de infância, que é muuuito recente. Se analisarmos o relato feito por esse historiador, teremos certeza de que a pedofilia, assunto que causa uma reação tão horrenda na sociedade de hoje, é muito antiga e foi , por muito tempo, aceita.
               "As pessoas se divertiam com a criança pequena como com um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela mordesse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria."
                Até o século XVIII, por aí, a criança era um anão. Depois dessa primeira fase de "paparicar" o "brinquedinho novo", os adultos a tratavam exatamente como outro adulto. Não havia pudores, nem abstenção do trabalho. Esse conceito está presente até nas pinturas da época, onde as crianças são retratadas como homens adultos, porém, numa escala menor.
                Imaginem uma família de camponeses franceses no inverno. Até os animais tinham que dormir dentro de casa para não morrerem congelados. Não dava pra ter um quarto para cada filho, é lógico, nem se quer uma cama pra cada um. O que acontecia então era que toda a família dormia na mesma cama. Ou seja, as crianças tornavam-se observadoras e às vezes até participantes do ato sexual dos pais. Não fiquem chocados, e antes que alguém queira me processar ou me excomungar, não fui eu, mas historiadores renomados como, Ariès, na obra acima citada,  e Robert Darnton, em seu "O grande massacre de gatos, que trouxeram esses fatos à tona.
                  "Na sociedade medieval o sentimento de infância, não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde a consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia (ARIÈS, 1973 p. 156)"
            A revolução industrial e o processo de "cristianização acabaram levando a distinção entre crianças e adultos. Entre a revolução industrial e "hoje" aconteceu o seguinte: estabeleceu-se o conceito de infância, as crianças foram "separadas" dos adultos e essa fase da vida começou a ser tratada de maneira "especial" e pregou-se a idéia de que sexo e maldade são elementos estranhos ao universo infantil. 
            Aí vou eu para a desconstrução do sujeito cartesiano...não existe verdade absoluta, os conceitos são criados por indivíduos dentro de uma determinada cultura e de um determinado período. Um ser que era antes igual ao adulto, passou a ser, digamos, idealizado, sacralizado como puro e inocente...  Não dá pra fazer a linha boba e achar que criança não tem interesse sexual. O pobre do Freud morreu explicando isso e todos os seres do planeta já tiveram pelo menos um discussão sobre o que ele afirmou. 
           Quem já assistiu "Lolita"?  Ela choca por ser uma criança que tem noção da sua sexualidade. Só isso. Ah, tem um pouco de maldade e manipulação também, mas que criança não manipula pra conseguir o que quer? No caso da personagem, ela encontra a arma perfeita, o sexo. O desejo , a curiosidade e o arrependimento infantil ajudam a delinear essa personagem tão bem construída, tão real. A beleza do filme, me refiro a todas as versões, me faz pensar...Será que o livro, ou os filmes sobre a "Lolita" seriam bem aceitos se tivessem sido  lançados  hoje, depois desses casos recentes de crimes hediondos envolvendo pedofilia? Será que as pessoas acham mesmo tão errado se sentir atraído por crianças? Será que a mini-série "Presença de Anita" teria feito tanto sucesso? 
          Todo mundo sabe de algum caso em que alguém mais velho, geralmente um homem, tem um relacionamento com alguém que está dentro dessa fase que hoje definimos como infância. Esse relacionamento não é necessariamente de exploração ou de violência, e é aceito pela comunidade. Então,  o que seria pedofilia? E se a "criança", como a Lolita, ou a personagem de Natalie Portman em "O profissional", se interessar por alguém mais velho? Até que ponto isso é crime, ou deveria ser tratado como crime pela sociedade?


...


Dicas de fontes sobre o assunto:
Filmes:. O profissional, Lolita
Livros:  História Social da Criança e da Família, O grande massacre de gatos( nessa obra o assunto não é o foco, mas há vária informações interessantíssimas a respeito) 
*Tô com preguiça de botar as referências.
=)

domingo, 16 de maio de 2010

Criamos nossa própria matrix

Caralho!
Não dá pra expressar minha reação em outras palavras...caralho...as pessoas são muito mentirosas, e o pior é que as mentiras mais convincentes são contadas por elas, para elas mesma. A pior coisa não é a mentira em si, mas todas as justificativas para se convencer de algo que você mesmo sabe não ser verdadeiro.

sábado, 15 de maio de 2010

Cabeça vazia...

Andei muito tempo distante do meu blog, muitos dos meus seguidores devem ter sofrido (isso foi uma tentativa de ironia). A explicação: muitas coisas a fazer. Especialização, trabalho na UECE, ensino à distância e meus queridos alunos de inglês...tudo isso. Antes, no meu antigo emprego, me sentia sufocada. Agora, mesmo tenho um milhão de coisas a mais, me sinto satisfeita e motivada a enlouquecer ainda mais lendo Hamlet, e qualquer coisa que encontrar sobre. Essa loucura, vontade de fazer as coisas direito, só me faz bem. Infelizmente só funciono sob pressão. Se tenho muito tempo ocioso acabo dormindo e só. Quando me dou conta a vida já passou. Gosto dessa loucura, de estar cansada sábado a noite, mas saber que fiz muito.
A melhor coisa do mundo é se apaixonar pelas coisas. Quem já assistiu "Whip it!" ( ou "Garota Fantástica, título em português)? A história de uma menina de 17 anos, pressionada pela mãe a concorrer em concursos de beleza, moradora de uma cidade pacata, garçonete de um restaurante chamado "Le porcão", e com uma vida totalmente parada. Essa menina se apaixona ao ver um grupo de garotas de patins entrando numa loja para distribuir panfletos sobre uma vaga no time de Roller Derby. Para quem não sabe, Roller Derby é um esporte onde umas meninas mal encaradas e de mini-saia andas de patins(aqueles antigos, não o in-line) e se acotovelam tentando ultrapassar as adversárias para marcar pontos).  E ela descobre que é boa nisso, apesar de pequena,jovem e magra, ela consegue competir e até vencer as loucas tatuadas. Achei massa a transformação da personagem ao se apaixonar por esse esporte, e por tudo o que estava envolvido em tornar-se uma patinadora do time. Liberdade, ousadia, força, amizade, aquela receitinha meio sessão da tarde que sempre funciona. Outra coisa boa do filme é como a relação mãe opressora- filha oprimida é desenhada. A mãe não é pintada como uma vilã, mas como uma mulher meio frustrada que tenta realizar seus sonhos através da filha, dessa forma, sufocando-a e tornando-a apática. 
Andar de patins significa lutar pelo contrário, sair da cidade-prisão  monótona, se apaixonar por um integrante de uma banda e não ter medo, mesmo que depois ela seja corneada por ele...e é se arrepender e entender que apesar de errada, a mãe só queria o melhor mesmo. Um lindo filme, engraçado, forte e delicado. Fiquei sabendo dele através de uma entrevista da diretora, Drew Barrymore. Fiquei curiosa pra ver do que ela era capaz e gostei. Só não entendi  porque não chegou aos cinemas por aqui. Injusto.
Juliette Lewis, a própria Drew e Ellen ( a menina do Juno) estão no elenco, só pra avisar mesmo.